sexta-feira, 13 de junho de 2008

Febre de sentir


Se escrevo o que sinto é porque assim diminuo a febre de sentir.

O que confesso não tem importância, pois nada tem importância.

Faço paisagens com o que sinto.

A arte consiste em fazer os outros sentir o que nós sentimos, em os libertar deles mesmos, propondo-lhes a nossa personalidade para especial libertação.

Tudo em nós está em nosso conceito do mundo; modificar o nosso conceito do mundo é modificar o mundo para nós, isto é, é modificar o mundo, pois ele nunca será, para nós, senão o que é para nós..

Correr riscos reais, além de me apavorar, não é por medo que eu sinta excessivamente - perturba-me a perfeita atenção às minhas sensações, o que me incomoda e me despersonaliza.

Enquanto não superarmos a ânsia do amor sem limites, não podemos crescer emocionalmente.

Enquanto não atravessarmos a dor de nossa própria solidão, continuaremos a nos buscar em outras metades.

Para viver a dois, antes, é necessário ser um.

A vida prejudica a expressão da vida.

Se eu vivesse um grande amor nunca o poderia contar.


Fernando Pessoa

1 comentário:

Anónimo disse...

"A arte consiste em fazer os outros sentir o que nós sentimos, em os libertar deles mesmos, propondo-lhes a nossa personalidade para especial libertação."

Tu, tal como ele, consegues fazer-te "sentir" duma forma extraordinária.
Por seres a artista que és, parabéns!
Beijocas freascas ;)