sábado, 14 de agosto de 2010

Como se esquece alguém que se ama?



Como se esquece alguém que se ama?
Como é que se esquece alguém que nos faz falta e que nos custa mais lembrar que viver?

Quando alguém se vai embora de repente, como é que se faz para ficar?
Quando alguém morre, quando alguém se separa - como é que se faz quando a pessoa de quem se precisa já lá não está?

As pessoas têm de morrer, os amores de acabar.
As pessoas têm de partir, os sítios têm de ficar longe uns dos outros, os tempos têm de mudar.

Sim, mas como se faz?
Como se esquece?

Devagar! É preciso esquecer devagar.
Se uma pessoa tenta esquecer-se de repente, a outra pode ficar-lhe para sempre.
É preciso aguentar.
Já ninguém está para isso, mas é preciso aguentar!

A primeira parte de qualquer cura é aceitar-se que se está doente.
É preciso paciência!
O pior é que vivemos tempos imediatos em que já ninguém aguenta nada.
Ninguém aguenta a dor. De cabeça ou do coração.
Ninguém aguenta estar triste.
Ninguém aguenta estar sozinho.
Tomam-se conselhos e comprimidos.
Procuram-se escapes e alternativas.
Mas a tristeza só há-de passar entristecendo-se.

Não se pode esquecer alguém antes de terminar de lembrá-lo!

A Saudade é uma dor que pode passar depois de devidamente doída, devidamente honrada.
É uma dor que é preciso, primeiro, aceitar.
É preciso aceitar esta mágoa, esta “moinha”, que nos despedaça o coração e que nos mói mesmo e que nos dá cabo do juízo.

Dizem-nos para esquecer, para ocupar a cabeça, para trabalhar mais, para distrair a vista, para nos divertirmos mais mas, quanto mais conseguimos fugir, mais temos mais tarde de enfrentar.
Fica tudo à nossa espera.
Acumula-se-nos tudo na Alma, fica tudo desarrumado.

O esquecimento não tem arte.
Os momentos de esquecimento conseguidos com grande custo com amigos e livros e copos, pagam-se depois em condoídas lembranças a dobrar.

Para esquecer é preciso deixar correr o coração, de lembrança em lembrança, na esperança de ele se cansar.

Porque é que é sempre nos momentos em que estamos mais cansados ou mais felizes que sentimos mais a falta das pessoas de quem amamos?
O cansaço faz-nos precisar delas.
Quando estamos assim, mais ninguém consegue tomar conta de nós.
O cansaço é uma coisa que só o Amor compreende.
A felicidade faz-nos sentir pena e culpa de não a podermos participar.
É por estarmos de uma forma ou de outra sozinhos que a saudade é maior.
Mas, o mais difícil de aceitar, é que há lembranças e amores que necessitam do afastamento para poderem continuar.
Deixar de ver para ter vontade de ver.
Às vezes, a presença do objecto amado provoca a interrupção do Amor.
É por isso que nunca se deve voltar a um sítio onde se tenha sido feliz.
Regressar é fazer mal ao que se guardou.

Uma saudade cuida-se.
Nos casos mais tristes, separa-se da pessoa que a causou.
Continuar com ela, ou apenas vê-la pode desfazer e destruir a beleza do sentimento.

Mas como esquecer?
Como deixar acabar aquela dor?

É preciso paciência!
É preciso sofrer!
É preciso aguentar!

Há grandeza no sofrimento!
Sofrer é respeitar o tamanho que teve um Amor.

No meio do remoinho de erros que nos revolve as entranhas de raiva, do ressentimento, do rancor - temos de encontrar a raiz daquela paixão, a razão original daquele Amor.

As pessoas morrem, magoam-se, separam-se, abandonam-se, fazem os maiores disparates com a maior das facilidades.
Para esquecer uma pessoa não há vias rápidas, não há suplentes, não há calmantes, ilhas nas Caraíbas, livros de poesia - só há lembrança, dor e lentidão, com uns breves intervalos pelo meio para retomar o fôlego.
Ir a correr para debaixo das saias seja de quem for é uma reacção natural, mas não serve de nada e faz pouco de nós próprios.
A mágoa é um estado natural. Tem o seu tempo e o seu estilo. Tem até uma estranha beleza. E nós somos feitos para aguentar com ela.

Podemos arranjar as maneiras que quisermos de odiar quem amámos, de nos vingarmos delas, de nos pormos a milhas, de lhe pormos os cornos, mas tudo isso não tem mal.
Nem faz bem nenhum!
Tudo isso conta como lembrança, tudo isso conta como uma saudade contrariada, enraivecida, embaraçada.
O que é preciso é igualar a intensidade do Amor a quem se ama e a quem se perdeu.

Para esquecer, é preciso dar algo em troca!
Os grandes esquecimentos saem sempre caros.
É preciso dar tempo, dar dor, dar com a cabeça na parede, dar sangue, dar um pedacinho de carne.

Pode esquecer-se quem nos vem à lembrança, aqueles de quem nos lembramos de vez em quando, com dor ou alegria, tanto faz, com tempo e com paciência, aqueles que amámos com paciência, aqueles que amámos sinceramente, que partiram, que nos deixaram, vazios de mãos e cheios de saudades, esses doem-se e depois esquecem-se mais ou menos bem.

E quando alguém está sempre presente?
Quando é tarde!
Quando já não se aguenta mais!
Quando já é tarde para voltar atrás, percebe-se que há esquecimentos tão caros que nunca se podem pagar.

Como é que se pode esquecer o que só se consegue lembrar?
Aí, está o sofrimento maior de todos!
O luto verdadeiro!
Aí está a maior das felicidades!

[Sabes?!...
Agora quero sorrir!
Tenho gosto, tenho vida!
Sequei as lágrimas,
Encontrei-me no corpo ausente,
E num arco-íris,
Descobri manhãs,
Quando acordei e quis.
Afinal, estou magoada,
Porque fui infeliz,
Mas não há dúvida:
Ainda serei feliz!!!


É sempre Amor, mesmo que mude!
É sempre Amor, mesmo que acabe!
É sempre Amor, mesmo que alguém esqueça o que passou!...]

sábado, 10 de abril de 2010

Sol de ti... [em mim]



Deixa que os meus olhos se fechem,
E confiem um minuto nos teus...

Olha por mim, protege o meu sonho,
Vigia o meu descanso e afasta-me de todas as mágoas,
Com os teus beijos apaga tudo o que é mau…
Envolve-me nos teus braços e cuida de mim…
Deixa-me descansar e adormecer no teu peito…

Deixa que os meus olhos durmam nos teus...

Deixa-me sonhar,
Deixa que sonhe com a tua boca,
Com as tuas mãos, com os teus beijos,
Com a tua pele na minha pele,
Com o teu corpo no meu corpo,
Com o teu calor a queimar-me por dentro…

Deixa que os meus olhos despertem,
Com o sol a romper nos teus olhos...

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Como te quero



Quero-te junto a mim...
Assim, tão perto, que terei que respirar o mesmo ar que sai da tua boca.
Manter-me prisioneira dos teus braços...
Sentir a tua pele quente, roçando a minha...
As tuas mãos invadindo o meu corpo, que é já só teu, inventando nele novos caminhos...
Fazendo da cama o nosso ninho...

Quero sentir o meu coração bater junto ao teu, no mesmo compasso...
A tua boca, sussurrando as tuas fantasias, deliciosamente loucas...

Quero amar-te com loucura, de todas as formas possíveis e impossíveis...
Quero que me apertes contra o teu peito, que me beijes na boca com Paixão...
Quero abrir os meus braços inquietos, para sentir o teu abraço...
Com as minhas pernas, encaixar-me em ti, formando um laço, que desejo não mais desatar...

Liberta o meu corpo que grita, aflito, de desejo... Sem pudores, sedento pelas tuas carícias... Carente das tuas mãos suaves, que conhecem todos os meus recantos, cada milímetro de mim...
Enfim, o êxtase... Corpos suados...
Almas gémeas de amor saciadas.

Quero-te na grandeza desse instante que se faz eterno...
Quero-te na saudade, na tua ausência...
Quero o suave sabor da tua boca,
O toque terno das tuas mãos em mim...

Quero-te em mim, assim...
Num Tempo que não conhece fim!...

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Soneto de Fidelidade




De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.



Vinicius de Moraes

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Apaixonada



Por vezes sinto uma paixão louca
Nascer dentro de mim...
Lava incandescente,
Um calor premente,
Uma torrente de alegria sem fim...

Não sei como ultrapassar
Este sentimento,
Que me torna cega, mas feliz...
Ávida de tudo,
Desejo infinito...

Sou assim,
Apaixono-me!...

Por cidades, ruas e jardins...
Passeio-me louca,
Maravilhada de tudo...

No sangue, a certeza
De um fervor sem fim...
E no olhar, o brilho
De quem ama perdidamente...

Paixões voláteis,
Que mudam a cada esquina,
A cada ideia nova...
Nos sentidos despertos,
Num entusiasmo novo,
Intenso e louco,
Em cada momento...

E dou-me totalmente,
Em tudo o que faço!...
Apaixonada...
Ergo monumentos,
E desenho metas,
Assim...

Ávida de conhecimento,
Curiosa... Fascinada...
Vagueio na vida...
Sentindo extremos...
Apaixonada!...

Sinto demasiado,
E amo e odeio,
Brinco e choro,
Morro e renasço!...

Ardo no fogo,
De cada projecto novo...
E fecho-me,
Em esferas de calor...

Desço ao inferno,
E volto ao sabor...
Do vento,
Do tempo...
Para renascer,
Noutro lugar,
Numa ideia,
Numa vontade,
Nova de tudo!...

O meu destino?!
Destruir e reconstruir...
Tudo!!!

sábado, 16 de janeiro de 2010

Eu... Imperfeita... Me confesso...




Eu, imperfeita, me confesso:

Confesso ao mundo que sou negra... E branca...
Que amo e odeio, que quero para não querer...
Que me fecho em mim, calo e não sou franca...
Que desespero de tanto amar sem poder!

Eu, imperfeita, me confesso:

Confesso que ruge em mim o Mal e o Bem,
Que se debatem numa luta sem fim,
Extenuando-me as forças, arrastando para além do meu limite...
Exigo-me o que já não tenho de mim...

Eu, imperfeita, me confesso:

Confesso que amo mais que a própria Vida...
Que morro a cada dia um pouco mais...
Na ausência do "meu mundo" e vivo dividida,
Entre lutar por tê-lo a meu lado esquecendo os demais,
E libertá-lo do nó cego que por Amor se deu...

Eu, imperfeita, me confesso:

Sou imperfeita,
Comum, com pecados e qualidades,
Luxúria, orgulho, preguiça,
Anseios, Amor, ternura, carinho, etc.

Todos na sua devida ordem e ocasião exacta.

MAS SOU INTENSA EM TUDO!

Porém, em busca contínua da perfeição,
Mas sem hipocrisia e falso moralismo.

Pois SOU original e NÃO cópia do que desejo.
Mas também tenho a sabedoria de tentar achar-me,
Encontrar-me...

Por favor!
Chega de falsidade!
A vida é curta demais, para ética barata.

Para que queres a verdade, se não a aguentas?

Não me perguntes:
- Quem és?
- De onde vens?
- Para onde vais?

Sou Mulher...
Que alguém magoou,
E que com asas adaptadas voou...

Não tentes entender as vezes que padeci.
Não vale a pena tentar.
Nem tentes descodificar as incógnitas que sobreviveram a essa dor!
Não se aborreça, se o amor acabou,
Se o meu coração sangrou e muita mágoa deixou.
Não tentes restaurar, enxugando as lágrimas
Que escorrem pela minha face,
Lágrimas sem disfarce...

Metade de mim ficou em alguém,
E não se quer reconfortar.

Ainda temo a paixão do olhar,
A metade que sobreviveu,
De Ti não se esqueceu...
Mas exonerou-se de te amar...


Onde há muito sentimento, há muita dor.
[Leonardo da Vinci]