sexta-feira, 20 de março de 2009

Pai...



O texto que passo a transcrever abaixo tem 5 anos e, ainda hoje, é verdadeiro e retirado do fundo do meu coração.
A situação mantém-se, apenas acrescendo à mesma mais 5 anos...
Como é possível a um Pai não ver um filho por tanto tempo, não sei e duvido que algum Pai que, realmente, o seja consiga explicar...
O meu Filho tem quase 12 anos e, desde que nasceu, nunca teve um Pai presente. Essa pouca presença, com o passar dos anos, acabou por se tornar em ausência total e assim se mantém até hoje.
Sim, nem um telefonema, uma visita... Nada de nada!
Faço o possível e o impossível para que essa ausência não seja sentida pelo meu Filho, tento ser Mãe e Pai ao mesmo tempo, mas não sei até que ponto o consegui... Talvez só no futuro consiga saber até que ponto tive sucesso...
Neste momento, garanto que o meu Filho é a minha Vida e o meu maior orgulho pois, além de ser o meu menino, tem-se demonstrado um excelente aluno e um grande ser humano, apesar de tão pouca idade.
Agradeço tudo o que me tem dado em troca do pouco que lhe posso dar, pois tenho plena consciência que não posso ser o seu Pai, apesar de todos os dias o tentar...
A mim, resta-me a culpa de não ter escolhido o melhor para o meu Filho, apesar de só querer dar-lhe o melhor... Falhei, talvez num dos aspectos mais importantes da sua Vida e é por isso que tento, todos os dias, colmatar essa minha falha com todo o meu Amor.


Sim, eu sei que o Dia do Pai foi na passada 6ª Feira, mas o que me impediu de escrever sobre este assunto foi mesmo a angústia de saber o quanto me magoa saber que eu sou feliz por ter um Pai sempre a meu lado que sempre me apoia e apoiou em tudo, apesar das asneiras que já fiz e que eu não fui capaz de dar essa mesma felicidade ao meu filho!!!

Sim, fui Mãe muito cedo e, talvez por isso mesmo, não soube escolher o Pai ideal para o meu Filho!
Sinto ódio de mim mesma por isso mesmo e é esse sentimento que carrego comigo todos os dias.
O sentimento de saber que o meu filho não teve, não tem e nem nunca terá a seu lado o seu Pai, aquele que lhe deu a vida em conjunto comigo e que, apesar dos laços de sangue que partilham, não o vê há mais de um ano!
Esse sentimento que se transforma numa revolta interior e que me consome todos os dias!!! Um sentimento de revolta e impotência por não conseguir dar tão simples sentimento ao meu Filho!!!

Na passada 6ª Feira, esse misto de sentimentos foi mais intenso pois, o meu filho entrou para a escola oficial este ano e, como todas as crianças teria de fazer um trabalho na escola para oferecer ao Pai...que não tem, pelo menos não em presença!...
E foi isso que aconteceu: o meu Filho pintou e recortou uma carrinha cheia de crianças felizes a que chamou a “carrinha da alegria”, a qual, em forma de envelope, tinha dentro um pano de flanela com a sua mão pintada e o seu nome escrito!!!
A quem daria o meu Filho tal presente???
Ao chegar a casa à noite, mais uma vez o meu Filho, de tão tenra idade, me surpreendeu ao dizer: “ -Mãe, queres ver o presente que fiz para o meu Avô??? “.
Confesso que foi com as lágrimas nos olhos que acedi e disse “ – Sim, Amorzinho! Claro que quero! “.
Foi então que o meu filho foi buscar a “carrinha da alegria” com o pano de flanela em que deixara a marca da sua mãozinha com o seu nome e me disse: “ –Vês, Mãe? Foi este o presente que fizemos na escola para oferecer aos nossos Pais. Como eu não tenho o meu, ofereci ao teu! “.
Nem imaginam o quanto me foi difícil evitar que uma lágrima rolasse pela minha cara, mas consegui e, a muito custo, respondi-lhe: “ – Filho, tu tens Pai, só que ele não está presente, só isso! “, ao que o meu Filho respondeu: “ –Sim, eu sei. Mas se ele não me vem ver é porque não quer e eu também não quero saber disso! O teu Pai é meu Pai também e tu és a minha Mãe!!!”.

Que se pode dizer de tão duras e, ao mesmo tempo, doces e sinceras palavras vindas da boca de uma criança que ainda não tem 7 anos??? Não sei, nem soube na altura e, por isso mesmo, não respondi e apenas lhe dei um beijo e um enorme abraço, tentando esconder as lágrimas que teimaram em cair...
A resposta que tive do meu Filho foi um abraço apertado e reconfortante e um “ –Oh, Mãe...”. Só vos posso dizer que o meu coração ficou muito apertado, quase tanto como o abraço que dei ao meu Filho, e a Tristeza de não lhe poder dar a presença do Pai naquele dia, naquela noite, transformou-se na Alegria que senti de ter o meu Filho ali, tão junto a mim!!!

Pais, por favor, não deixem de estar presentes na vida dos vossos Filhos e deixem-se surpreender por todas a reacções deste tipo que vos dão forças para continuar a viver!
Pensem bem antes de decidirem ser Pais, só por ser!
Sejam mais presentes na vida dos vossos Filhos, mesmo que para isso tenham de percorrer quilómetros para os verem! Lembrem-se de que eles não têm culpa dos Pais e Mães que têm e nem pediram para vir ao Mundo!!!
Sejam felizes e façam os vossos Filhos felizes!!!




Em jeito de conclusão, e porque ontem foi o seu dia, agradeço ao meu Pai por sempre ter estado ao meu lado, sempre me ter apoiado, no bem e no mal, e por me dar esperança para acreditar que ainda existem Pais que merecem este nome, tal como o meu!

Amo-te muito, Pai!
Tenho muito orgulho em te chamar “Pai”, tenho muito orgulho em ser tua filha!
Obrigada por existires e por seres meu Pai!!!

6 comentários:

[_David_] disse...

Mais uma vez conseguiste por me a chorar...
Eu estive no lugar do teu filho e sempre disse e hoje desde que nasci passaram mais de vinte anos,meu pai é o meu avô...
De sempre e para sempre, uma pessoa que me apoiou em tudo e fez de mim o Homem que sou hoje!
Não te culpes por nada, pois jamais conseguiria culpar a minha mãe do quer que fosse, pois tal como tu ainda hoje se esforça.

Um beijo muito grande!

Chronis disse...

Eu é que te agradeço pelas tuas palavras, David :)

Um Beijinho

Anónimo disse...

O olho começou a brilhar de emoção ao ler isto...

Compreendo a tua tristeza, mas não imagino o que seja suportar tal mágoa...

Apesar de tudo, o que mais me marcou foram as coisas positivas que descreveste e por essa razão, penso que já foste recompensada com o ser humano que criaste...

Esse ódio não é repreensível mas deverias conseguir sublimá-lo para te entregares ao que de bom a vida te ofereceu, mesmo ela tendo sido tão injusta...

Não tentes ser pai por mais que seja a tua vontade...
Se continuares a ser a mãe que já és, não precisas de mais nada, porque o teu filho sabe-o e sente...

Eu trabalho com crianças e sei o tanto que elas nos ensinam, por isso relembra-te sempre das palavras do teu filhote...
Continua a crescer com ele... :)

Parabéns pelo que já conseguiste, por dares muito mais que a vida ao teu filho e por teres um pai que conseguiu delegar para ambos tão bonitos valores e sentimentos!

Um beijo apertado minha querida* :)

Chronis disse...

Conseguiste pôr-me também de olho a brilhar de emoção ao ler as tuas palavras...

Muito, muito obrigada...
Adorei!!!

Um Beijo Enorme e um Abracinho apertadito :)*

fritz disse...

Simplesmente...Inexplicável...É uma incógnita para mim como pode um pai ou uma mãe, "perder o rasto" propositadamente a um filho que deu ao mundo, obviamente que é comum hoje em dia haver país divorciados, contudo e apesar dos problemas pessoais, o filho deve ser prioritário e o seu bem estar defendido a pulso, agora...Indiferença? Não querer saber??? Qué isto???? :| E é, na minha opinião, absolutamente magnifica a forma como o teu filho encarou a situação, seria se calhar, mais normal chegar a casa abalado pela tarefa da escola que tinha de fazer e pelo facto de não ver o pai, contudo, conseguiu ele mesmo dar a volta à questão e mostrar-te a ti que és mãe e adulta que ESTÁS de facto a fazer o papel de mãe e pai, embora obviamente seja dificílimo fazer os 2 papeis. O texto tocou-me obviamente ( e eu que não sou lamechas) mas isto é um caso real e conheço-te e pronto olha...emocionei-me desculpa o testamento...Se algo do que escrevi não fizer nexo, se calhar até é um pouco normal, ask me why! Beijos e...Continua a amar o teu filho assim que é lindo :)

IvoneLage disse...

Claro que foi impossível não aparecer um lágrima nos olhos, mas com uma certeza fiquei dado a resposta do teu filho: criaste um Ser Lindo (mesmo sem pai presente) e nota que este pai é escrito em minusculas de propósito... nem todos tem o direito de serem chamados Pais. Eu tal como tu tive o previlégio de ter um Pai, presente, amigo, meigo... mas pelo que vejo tu soubeste criar o teu filho de um modo sublime!!
Não te odeies por não teres conseguido que o teu filho tivesse um pai presente... a opção foi dele!

Um grande beijinho e mesmo sem te conhecer, posso afirmar... és uma grande MULHER!!!
Um dia muito FELIZ!!!