
O texto que passo a transcrever abaixo tem 5 anos e, ainda hoje, é verdadeiro e retirado do fundo do meu coração.
A situação mantém-se, apenas acrescendo à mesma mais 5 anos...
Como é possível a um Pai não ver um filho por tanto tempo, não sei e duvido que algum Pai que, realmente, o seja consiga explicar...
O meu Filho tem quase 12 anos e, desde que nasceu, nunca teve um Pai presente. Essa pouca presença, com o passar dos anos, acabou por se tornar em ausência total e assim se mantém até hoje.
Sim, nem um telefonema, uma visita... Nada de nada!
Faço o possível e o impossível para que essa ausência não seja sentida pelo meu Filho, tento ser Mãe e Pai ao mesmo tempo, mas não sei até que ponto o consegui... Talvez só no futuro consiga saber até que ponto tive sucesso...
Neste momento, garanto que o meu Filho é a minha Vida e o meu maior orgulho pois, além de ser o meu menino, tem-se demonstrado um excelente aluno e um grande ser humano, apesar de tão pouca idade.
Agradeço tudo o que me tem dado em troca do pouco que lhe posso dar, pois tenho plena consciência que não posso ser o seu Pai, apesar de todos os dias o tentar...
A mim, resta-me a culpa de não ter escolhido o melhor para o meu Filho, apesar de só querer dar-lhe o melhor... Falhei, talvez num dos aspectos mais importantes da sua Vida e é por isso que tento, todos os dias, colmatar essa minha falha com todo o meu Amor.
“Sim, eu sei que o Dia do Pai foi na passada 6ª Feira, mas o que me impediu de escrever sobre este assunto foi mesmo a angústia de saber o quanto me magoa saber que eu sou feliz por ter um Pai sempre a meu lado que sempre me apoia e apoiou em tudo, apesar das asneiras que já fiz e que eu não fui capaz de dar essa mesma felicidade ao meu filho!!!
Sim, fui Mãe muito cedo e, talvez por isso mesmo, não soube escolher o Pai ideal para o meu Filho!
Sinto ódio de mim mesma por isso mesmo e é esse sentimento que carrego comigo todos os dias.
O sentimento de saber que o meu filho não teve, não tem e nem nunca terá a seu lado o seu Pai, aquele que lhe deu a vida em conjunto comigo e que, apesar dos laços de sangue que partilham, não o vê há mais de um ano!
Esse sentimento que se transforma numa revolta interior e que me consome todos os dias!!! Um sentimento de revolta e impotência por não conseguir dar tão simples sentimento ao meu Filho!!!
Na passada 6ª Feira, esse misto de sentimentos foi mais intenso pois, o meu filho entrou para a escola oficial este ano e, como todas as crianças teria de fazer um trabalho na escola para oferecer ao Pai...que não tem, pelo menos não em presença!...
E foi isso que aconteceu: o meu Filho pintou e recortou uma carrinha cheia de crianças felizes a que chamou a “carrinha da alegria”, a qual, em forma de envelope, tinha dentro um pano de flanela com a sua mão pintada e o seu nome escrito!!!
A quem daria o meu Filho tal presente???
Ao chegar a casa à noite, mais uma vez o meu Filho, de tão tenra idade, me surpreendeu ao dizer: “ -Mãe, queres ver o presente que fiz para o meu Avô??? “.
Confesso que foi com as lágrimas nos olhos que acedi e disse “ – Sim, Amorzinho! Claro que quero! “.
Foi então que o meu filho foi buscar a “carrinha da alegria” com o pano de flanela em que deixara a marca da sua mãozinha com o seu nome e me disse: “ –Vês, Mãe? Foi este o presente que fizemos na escola para oferecer aos nossos Pais. Como eu não tenho o meu, ofereci ao teu! “.
Nem imaginam o quanto me foi difícil evitar que uma lágrima rolasse pela minha cara, mas consegui e, a muito custo, respondi-lhe: “ – Filho, tu tens Pai, só que ele não está presente, só isso! “, ao que o meu Filho respondeu: “ –Sim, eu sei. Mas se ele não me vem ver é porque não quer e eu também não quero saber disso! O teu Pai é meu Pai também e tu és a minha Mãe!!!”.
Que se pode dizer de tão duras e, ao mesmo tempo, doces e sinceras palavras vindas da boca de uma criança que ainda não tem 7 anos??? Não sei, nem soube na altura e, por isso mesmo, não respondi e apenas lhe dei um beijo e um enorme abraço, tentando esconder as lágrimas que teimaram em cair...
A resposta que tive do meu Filho foi um abraço apertado e reconfortante e um “ –Oh, Mãe...”. Só vos posso dizer que o meu coração ficou muito apertado, quase tanto como o abraço que dei ao meu Filho, e a Tristeza de não lhe poder dar a presença do Pai naquele dia, naquela noite, transformou-se na Alegria que senti de ter o meu Filho ali, tão junto a mim!!!
Pais, por favor, não deixem de estar presentes na vida dos vossos Filhos e deixem-se surpreender por todas a reacções deste tipo que vos dão forças para continuar a viver!
Pensem bem antes de decidirem ser Pais, só por ser!
Sejam mais presentes na vida dos vossos Filhos, mesmo que para isso tenham de percorrer quilómetros para os verem! Lembrem-se de que eles não têm culpa dos Pais e Mães que têm e nem pediram para vir ao Mundo!!!
Sejam felizes e façam os vossos Filhos felizes!!!”
Em jeito de conclusão, e porque ontem foi o seu dia, agradeço ao meu Pai por sempre ter estado ao meu lado, sempre me ter apoiado, no bem e no mal, e por me dar esperança para acreditar que ainda existem Pais que merecem este nome, tal como o meu!
Amo-te muito, Pai!
Tenho muito orgulho em te chamar “Pai”, tenho muito orgulho em ser tua filha!
Obrigada por existires e por seres meu Pai!!!